A
BALEIA AZUL
A lenda da Baleia
Azul não nos vem, como seria de se esperar, de algum município litorâneo do
Piauí, mas sim da mesma Valença que descrevemos.
Na cidade-sede do
município destaca-se entre os fiéis a antiga igreja de São Benedito, datada de
1727. Este templo cristão é objeto de uma curiosa lenda, a da gigantesca Baleia
Azul. Os moradores mais antigos da cidade já ouviram de seus avós a estranha
história sobre o monumental cetáceo, que apareceu, não se sabe como, em
Valença.
Sedento por tão longa
viagem do litoral ao interior do Piauí, o gigantesco mamífero marinho sorveu de
uma só vez toda água do Rio Caatinguinha, que passa próximo àquela igreja.
Dizem que nessa época o rio era muito caudaloso, tornando-se o filete d’água de
hoje após a baleia saciar sua sede fenomenal...
Dizem que esta baleia
hoje está confortavelmente adormecida, como que hibernando, com a cabeça sob a
igreja de São Benedito, e com o rabo sob a igreja de Nossa Senhora da Conceição,
na cidade de Aroazes, a 40km...
Com o comprimento da
baleia de 40 km,
não é de se estranhar que se diga que o Rio Caatinguinha já foi tão volumoso
quanto o Rio Parnaíba... a sede da baleia justifica a redução das águas...
Certa vez, as paredes
da igreja começaram a se rachar de maneia natural, pelas variações diárias de
temperatura. Para os mais crédulos, isto ocorreu com a baleia se remexendo no
seu leito, abaixo da igreja. Talvez estivesse se espreguiçando...
Dizem que se o mostro
acordar totalmente, regurgitará a água que bebeu, e o Rio Caatinguinha terá de
volta seu antigo volume, inundando a cidade. Por isso é que, tão logo apareçam
rachaduras nas paredes da igreja, os mais temerosos logo tratam de
consertá-las...
Nos anos 80 Dona
Ditosa, fervorosa devota de São Benedito, teve um sonho revelador, onde o santo
lhe dizia:
— “Ditosa, cuidado! Mas mesmo assim, vá na
casa de Antônio José, e diga pra ele fazer um estandarte para mim, e no dia que
ele entregar, eu tenho que ir (a imagem) pra casa dele em procissão com a banda
de música e foguetório. Eu vou segurar por mais tempo (a baleia).”
Nessa época, Antônio
José, por sinal, o intelectual valenciano que nos relatou toda essa lenda,
morava em Floriano. Tão
logo retornou ao município de Valença, foi procurado por Dona Ditosa,
providenciou o estandarte e ela cumpriu o que o santo lhe solicitou: procissão
movimentada, foguetório e banda de música, tudo num alegre domingo. Assim, a
baleia ficou segura mais algum tempo no seu repouso, evitando-se uma tragédia
com o seu despertar...
Outro episódio
pitoresco sobre a baleia ocorreu também nos anos 80, quando da perfuração de um
poço ao lado da igreja de São Benedito. Certo dia, à meia-noite, um barulho
estranho foi interpretado como uma reação à profanação, por parte das máquinas,
ao leito da baleia. Dizem que esta, irritada com a perfuração, esguichou água
acima da torre da igreja...
Todas essas piedosas
e até anedóticas histórias sobre a Baleia Azul de Valença podem ter, na nossa
opinião pessoal, uma explicação paleontológica. Supomos que, quando da
construção do alicerce da igreja, no século XVIII, os escravos e feitores devem
ter desenterrado alguma ossada de animais da megafauna, como paleolama,
preguiça gigante, smilodon (tigre dente-de-sabre), mastodonte, etc.
Como ficaram
espantados ante ossadas tão descomunais, alguém as deve ter associado a
baleias, pelo seu gigantismo. Afinal naquela época ainda não existia a
paleontologia para explicar as ossadas da megafauna.
Assim se pode
explicar por que corre a tradição de que sob a Igreja de São Benedito se encontra
uma baleia em repouso secular.
A lenda da Baleia
Azul já está hoje integrada no folclore fabuloso do Estado do Piauí. Mas
cuidado, a baleia Azul pode acordar a qualquer hora... Por via das dúvidas, use
o seu colete salva-vidas...
COUTINHO, Reinaldo, Antiguidades Valencianas, Editora Caburé, Teresina - Piauí - 2000
já escrevi no blog dos causos sobre a baleia que mora embaixo da igreja e um post chamado "Um mar subterraneo repleto de baeias e surubins gigantes"... dá uma olhada lá e comenta! se gostar tá autorizado a joogar aqui!
ResponderExcluirO mentira
ResponderExcluirCada povo tem sua História, praticamente todos surgiram ou provenientes tem base nos mitos. O mundo Ocidental, é elegante e sustenta um grande mito, do qual ainda no mundo contemporâneo causa grande polemica. A grande diferença e/ou o grande querer é ver de forma diferente e as diferença que existem entre as grandes e as pequenas coisas. Levando para o principio que existe a liberdade de pensamento e expressão, a Literatura lhe dá campo para subjetividades plurais. Parabéns por ter lido e comentado! Quando visitar o monstro do Lago Ness na Escócia, me envia um texto para tornar mais fantasiosa nossa História! Muito grato pela Leitura!
ResponderExcluirEu realmente gostaria de visitar Valença e ouvir mais sobre essa história...
ResponderExcluirOK amigo Inaldo! Sinta-se convidado, nossa cidade continua muito bonita!
ResponderExcluirNesta semana, rodou um video sobre a baleia de Valença! Gostei! Muita gente viu e gostou, outros não! Entendi! Segundo Nelson Rodrigues, "...toda unanimidade é burra..." Então??!
ResponderExcluir